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Por dois canudos

quinta-feira, setembro 15, 2005

Autarquias e talhos

Passam dias e dias sem se escrever nos blogues pelas vicissitudes das férias de uns e dos trabalhos de outros. E quando aqui se volta, só vem à memória a miséria de mentalidade que se cultiva e que predomina neste país; no do lado de cá do Atlântico, bem entendido.

Passeando de autocarro, e passeando é um eufemismo porque de passeio as minhas viagens de autocarro não têm nada, apercebo-me da quantidade de obras que estão a decorrer nestes últimos dias, de há um mês a esta parte. A cretinice dos políticos que proliferam os ouvidos dos que arranjam paciência e os olhos dos que, como eu, se "passeiam" pelas cidades é, de facto, impressionante. Esses que utilizam frases como "Vamos pôr mãos à obra" e "O importante na Amadora são SEMPRE as pessoas" para ganharem a afeição daqueles que se aventuram ao ponto de arriscar pôr as suas cidades nas mãos desses desconhecidos do tipo caixeiro-viajante vendedor de banha da cobra que conta contos ao vigário. Assim mesmo redundante.
Aqui pelos meus lados constroem-se parques de estacionamento e jardins, instalam-se placas de tamanho abusivo a dar as boas vindas a uma cidade que sempre recebeu toda a gente sem placas e com satisfação, e enquanto isso se vai processando em 5ª velocidade, eu vejo o país em que um dia cresci ingénua e inocente, docemente iludida e embalada, desabar na hipocrisia e na demência desses que são, para mim, personas non gratas. Não só políticos.

E nesse meu passeio de autocarro, acabei por me deparar com uma imagem deveras impressionante. Um talho, fechado talvez por ser hora de almoço, que em tudo parecia um talho. Mas um talho com uma particularidade. Nesse estabelecimento, a todo o comprimento do balcão, pendiam fotografias de bebés em formato A3...
Não sei o que pensaria outra pessoa no meu lugar ou até se alguém já terá questionado o porquê dessa situação, mas a meus olhos foi algo bastante surreal, para dizer o mínimo. E não pude deixar de pensar, dadas as circunstâncias desta visão extraordinária, no iminente ridículo em que caem políticos e, porque não, também talhantes, na corrida aos seus interesses, nessa sede de poder pessoal, saciável e destruidora de carácteres.
E é chato ver que à nossa volta não há gente espirituosa, nem minimamente culta ou questionadora, que pondere isto de se fazerem obras apressadas e «desplaneadas» para se ganharem eleições ou o facto de, cada vez mais, se trabalhar apenas para o mínimo requerido, sem ambições ou sedes mais saudáveis que nos façam crescer e ser alguém. E quando se pensa nisto, lá se vai percebendo porque são todos uns imbecis, estes políticos. Porque foram todos eles estes jovens sem ambições que não as de ganharem renome e dinheiro no seio desta linda sociedade em que cresci iludida. Por terem sido filhos de um ministro rico ou porque fizeram parte de alguma qualquer juventude partidária.

Um amiguinho aqui da Amadora, por quem nutro uma certa inimizade sem violência ou nojo, tirou um dia o B.I. da carteira de uma colega nossa e no dia seguinte, entregou-lho dizendo: "Dentro de uma semana, deverás receber as informações da Juventude Socialista e o teu cartão do partido."
Acho que até hoje, a Mónica continua a questionar este acontecimento sempre que olha para o seu cartão partidário reluzente e a cheirar a novo; perguntando-se sempre porque haveria de lhe ter calhado a ela, na única semana de aulas em que pôs os pés na escola, em todo o ano lectivo, aquele prémio tão desejado por tantos: o de ter o seu nome ligado a um partido com apenas 18 anos e um dia enfim, poder vir a ser alguém em Portugal.
Branca


Posted by Branca |




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